Todos os dias me rodeio de náufragos – também eu escolhi ser uma. Sim, escolhi, porque nós, esses de Letras, somos náufragos por escolha.

Todos os dias me rodeio de náufragos – também eu escolhi ser uma. Sim, escolhi, porque nós, esses de Letras, somos náufragos por escolha.
O que podemos dizer desses judeus portugueses, que no início do século XVI já se queriam espetros do passado? Onde estão eles? Onde estão as pessoas que habitavam as judiarias das cidades de Portugal? Onde estão os sobreviventes do genocídio? Estão entre nós. Somos nós. Sou eu também, de alguma forma longínqua.
Nunca dançaremos
Nunca tocarás a minha
cintura
Para que me conduzas
O teu corpo está aí sentado
como se o tivesses,
por um momento,
abandonado.
Só tu conheces as insistentes
e indecifráveis marcas
que teus dedos persistentes ocultam
Raro é o homem que, nos tempos que correm, não rememore saudoso os bons velhos tempos de há cousa de pouco mais de um ano, em que não havia restrições sanitárias e tampouco havia restrições de circulação.