Um conto neo-noir, tonalidade média, sobre um escritor e o submundo urbano.

Um conto neo-noir, tonalidade média, sobre um escritor e o submundo urbano.
«O telemóvel do trabalhador assobiou. Era um toque de notificações. Fez-me recordar a minha velha casa. Há meses que não ouvia esse som. Um assobio simples fazia-me lembrar as notificações do telemóvel da minha mãe. Geralmente eram notícias. Ela recebia notificações de praticamente todos os jornais digitais. Ocasionalmente uma mensagem para relembrar o pagamento em atraso da conta da luz ou da água.»
“A noite bate nos vidros do Tivoli e a chuva invade a alma dos futuros espetadores, que aguardam impacientemente o esvaziar da entrada, para se poderem finalmente sentar ao balcão, para conversarem com os seus companheiros e ignorarem o Pobre que toca guitarra num palco iluminado.”
Preso pela minha consciência, sabendo uma batalha dentro de mim entre a verdade e tudo o resto, decidi que era altura de sair de casa.
“Gonçalo Dias tinha 28 anos, fora, nos últimos cinco, um importante membro da praxe académica de Lisboa, tendo finalizado sete matrículas antes que o ócio lhe permitisse licenciar-se em História.”
«O velho pescador Estevão Domingues, alfabetizado desde há muito tempo, contava ao neto, menino com semelhantes olhos esverdeados, as proezas do mar; e as gaivotas, açambarcando nos bicos a atenção dos dois pares de olhos, pregavam junto à costa, começando a pousar no muro(…)»