“Rebecca”, um ensaio fotográfico de Joana Fontinha

Pedro Lopes Adão

[revisão de Rita Homem]

~ Para ti, minha querida, que me inspiras. 

 A mulher, o seu tacto e finura, as sedas que lhe cobrem o corpo e a taça de vinho que segura  com uma mão, ou, mais tarde, de espumante ao ar livre, um livro, um papel, uma coligação de  objetos que lhe imprimem potência – e está reclinada na sua cadeira, hirta, pensativa, melancólica,  ou de pernas traçadas para o teto, talvez céu, deitada numa cama da sua chambre, verdadeira  maîtresse, evocando o sóbrio e o sublime, as tonalidades brancas e cremes, os verdes pálidos do  interlúdio, o contraste com os seus cabelos longos e encaracolados, reluzentes, e os olhos azuis  de safira… Rebecca!…Sim, “Rebecca”, um ensaio fotográfico de Joana Fontinha [insta:  joanasfontinha], uma artista da lente, da objetiva, desde o plano mais diminuto até à angular mais  lata. 

 Tripartido, inspirado num romance de título homónimo de Daphne du Maurier, este projeto  empreendido por Joana Fontinha cultiva a alma espectadora com a lição do amor – do amor não  correspondido, por exemplo, ou dos amores em que num par um se sobressai do outro nos afetos,  nas carícias, nos desejos. “Rebecca” tem o seu começo num quarto burguês, imponente, e o  primeiro golpe de asa de sensações que nos inspira é de complacência com a figura feminina, com  a mulher que ama louca e profundamente e que, por infortúnio da glória, se vê trocada, rebaixada  – e rebaixa-se com ela o seu esplendor, a sua sedução, instala-se a melancolia, as pupilas dilatadas  pela falta de luz, o modesto candelabro acende-se para evitar a escuridão total. Depois, num  piquenique, num pequeno apartado metafórico para alhures, guia-nos para a busca do  autoconhecimento, da autossuficiência, e do eterno retorno ao mesmo ponto: porque não consegue  “Rebecca” atiçar o fogo da sua alma e esquecer a figura idealizada, esse amante perfeito  experimentado e odiado que, no fundo, é reconduzido de novo ao seu espírito numa absolvição? Por fim, uma junção de cores mornas, tons de vermelho esbatido no horizonte, e os azuis celestes,  quase noturnos, onde “Rebecca” vem repousar a sua alma doce e amargurada, desconte, nunca  infeliz, e fluem-lhe os últimos pensamentos – alguns trá-los na cabeça, outros num papel singelo que segura com a sua mão pálida e fria –; será que?… o fim deste projeto fotográfico não pode ser  propiamente apelidado de final: a questão inicial do amor volta a ser levantada – será que o amor  que se teve não era, enfim, o amor necessário?  Pouco consegue mexer com as emoções. Vários livros, músicas e fotografias tentaram e,  sobremodo, falharam. Mas este projeto, orquestrado na égide mais profunda do âmago de Joana  Fontinha, obriga o espectador a vivenciar uma jornada e a extenuar-se por não saber lidar com a  beleza, a doçura e a finura. Digno de lágrimas cristalinas e de palmas estridentes, “Rebecca” ficará  para sempre na memória como O Projeto, A Obra, que Joana empreendeu e com ela triunfou:  conseguiu fundar sobre si um novo império: o império da imagem que roça o Adágio.

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