Morte em Vida, Raquel Travia

[Revisto por Márcia Marto]

Se te fustigaram a vida toda

é porque foste submisso aos interesses dominantes

e nesta breve existência, no intervalo entre o primeiro e último choro,

há que haver uma centelha cor âmbar dentro de nós sempre

de que a escuridão se quer apoderar: tire-se dos girassóis o exemplo.

Aqui não importa uma revolução de massas,

não! As mais importantes reviravoltas da História

acontecem individualmente,

pouco a pouco,

com a febre da mudança se vai contagiando os outros.

Imagine-se que alguém decidiu ser a personificação da mudança

e, de repente, começou a espalhar

um vírus tão letal que chegou até aos confins da terra,

atingindo as vísceras de todos os seres com complacência:

chamar-se-ia a pandemia do amor, altruísmo e compaixão

(uma utopia, pois claro).

Agora, meu amigo, se não fores atrás daquilo

que ainda te faz os olhos brilhar, o sorriso curvar,

estarás a sepultar-te em vida e não julgues que

terás direito a algum abalo telúrico ou crisântemos

(só quem vive depois da morte merece flores).

Tudo continuará igual – surgirá apenas nas lajes do chão

erva daninha, porque deixaste de te regar.

Húmus só de húmus serás composto.

Sem diligência há indolência e escolhendo a morte em vida

tomas uma decisão que cabe

na palma de um aperto de mão…

A quem o queres  dar? Conhecer Deus ou o diabo

é uma escolha que só depende de ti.