É estranho
Afirmar
Que quero descer os degraus do inferno
Para me encontrar?
Que desejo ver a minha sombra à luz…
Para me fazer despertar?
Eu não tenho medo da dor…
Quero que ela me ensine
Quero descobrir o potencial que tenho
Se isso fizer de mim cinzas…
Pelo preço do renascimento
Entregar-me-ei
Sim
Entregar-me-ei.
Sou uma pecadora
Por querer deixar-me ir…
Por querer ver…
O fundo do poço?
Peço perdão…
Mas não peço realmente.
Porque quero finalmente,
Visualizar-me
Inteira.
Quero finalmente,
Confirmar e aceitar
O espectro da minha alma.
Sombra e luz…
Luz e sombra…
Eu sou feita por elas,
Sobre elas,
Sou elas.
Não chorem ou gritem por nenhuma delas
Sorriam
Como eu sorrio
Como um predador…
Ao enfrentá-las
Ao absorvê-las
Ao escutá-las
Ao entregar-me… a elas
Das cinzas…todos renascemos.
Das cinzas…todos voaremos.
Nota:
Texto publicado originalmente em Eva —Da Queda ao renascimento. Lisboa: Chiado Books, pp. 53-54.