Cassandra, Márcia Marto

[Revisto por Sebastião Viana]

Sabes que vais morrer

mas continuas a ir ver o mar

e dizes: Isto é o que resta,

é o que fica,

acreditem.

E com a tua mão

amaldiçoada apontas

para o Oceano e para

o Sol e sorris a chorar

e gritas: Conheço o futuro,

acreditem!

As pessoas passam

por ti à beira-mar,

mas não te ouvem mesmo que o desejem.

Tu és boneco mudo a falar, quase cómico, Cassandra

sem voz, sem palavras, apenas gestos sem rumo

és doida que geme

és pessoa vulgar.

E escreves: Sei que amanhã fará tempestade e

que o mundo parará de girar.

Mas até as tuas palavras escritas

se autodestroem, Cassandra,

como escritos na areia

levados pelas ondas do mar.