A Criação de Eva, Beatriz Cardoso

[Revisto por Sebastião N. Viana]

Nota: No texto que se segue, Beatriz Cardoso a autora de Eva —Da Queda ao renascimento (disponível em https://www.chiadobooks.com/livraria/eva-da-queda-ao-renascimento) partilha connosco alguns mistérios e algumas descobertas, decorrentes da experiência de criação de “Eva” .

Não estava à espera que a “Eva” surgisse. Ela é que tranquilamente se esgueirou para perto de mim e me contou uma história.

Tal como a “Eva”, estava numa jornada de cura de velhas e novas feridas, à procura de reconciliar-me com a realidade à minha volta e com o meu próprio ser.

A “Eva” veio para resgatar a minha criatividade que estava guardada numa caixa, repleta de pó, dentro do meu quarto.

Murmurou: “Não tenhas medo…fala a tua verdade!”

E foi assim que comecei a escrever, sem saber bem para onde me encaminhava. Era como ela, uma rapariga a andar pela escuridão, com imensas inseguranças, à procura da luz. Dum sinal de esperança.

Queria libertar-me de crenças e valores que não queria para a minha vida, que me tinham sido impostos pela sociedade, e voltar a relembrar-me de quem eu era e do que ansiava concretizar. Não queria continuar a esconder-me com medo de ser rejeitada. Desejava expressar-me em liberdade, mostrando todos os pormenores do meu ser, quer fosse demasiado intenso ou não.

A “Eva” tinha de ser real, sem falinhas mansas, tinha de apresentar a humanidade na sua verdade. Erguer-se das cinzas e demonstrar o lado sombrio e o lado luz.

Surgiu assim a “Eva” com um histórico de quedas, barreiras, traições, rejeições, punição e sabotagem à procura de voltar a viver com mais força, autenticidade, liberdade, amor e coragem.

Comecei com pequenos passos, publicando os seus poemas numa página chamada “Becoming Alive” até ser convidada a publicar um livro para contar a sua história.

A “Eva” finalmente conquistou uma voz, renasceu e começou a traçar o caminho que sempre desejara percorrer.

A minha intenção com a “Eva” não era resgatar o feminino, o mito da primeira mulher que caiu e foi punida, mas acabou por entrelaçar-se com a minha história. A minha “Eva” é como muitas “Evas” que andam por aí, no nosso século, à procura de uma oportunidade para falarem a sua verdade. Eu espero que o meu livro as inspire a saírem da escuridão e a demonstrarem quem são na realidade.