Homossexualidade e Penumbra:
Texto de João N.S. Almeida.

Remetidos, pelo circunstância das coisas, muitas vezes à sombra, à reclusão, ao estatuto de pária, o homossexual fica, muitas vezes, ligado, embora de forma humana e socialmente injusta, a uma das dimensões do erotismo mais suas constituintes: a dimensão daquilo que é gelado, íntimo e intransmissível. Vale a pena dizer, por muito que se passe por cima de circunstâncias inadmissíveis para o respeito humano, que quanto mais velado, mais erótico.
Começamos então com um excerto cinemático que ilustra a dimensão subterrânea do culto homosexual. Anthony Curtis e Lawrence Olivier em Spartacus, de Kubrick, num diálogo sobre caracóis e ostras com fantástico sub-texto.
Eis o texto completo: Crassus: Do you eat oysters?
Antoninus: When I have them, master.
Crassus: Do you eat snails?
Antoninus: No, master.
Crassus: Do you consider the eating of oysters to be moral and the eating of snails to be immoral?
Antoninus: No, master.
Crassus: Of course not. It is all a matter of taste, isn’t it?
Antoninus: Yes, master.
Crassus: And taste is not the same as appetite, and therefore not a question of morals.
Antoninus: It could be argued so, master.
Crassus: My robe, Antoninus. My taste includes both snails and oysters.
Seguimos e concluímos com o seguinte excerto, que é de um conteúdo homoerótico ainda mais velado e subtil. Trata-se de uma cena do filme biográfico J Edgar, sobre o ex director do FBI Hoover, da autoria de Clint Eastwood. Nela, Leonardo DiCaprio e Arnie Hammer interpretam o velho director e o seu companheiro de vida, retratados numa relação quase platónica. Repare-se na intensidade do beijo que conclui a cena.