Professor-aluno e paedofilia
Texto de Raquel Vaz, João N.S. Almeida e Sílvía P. Diogo.


A pederastia na Grécia Antiga foi um ritual instituído em sociedade por volta do século VIII a.C., pese embora a falta de unanimidade entre os críticos, como compromisso ético e moral, ligado à prática da pedagogia, particularmente arreigado às castas dominantes daquela época e às relações sociais entre a elite (às quais hoje chamaríamos de “classe”, não necessariamente económica). Conhecemos vários testemunhos dessa ritualística que a partir do século V a.C. e sobretudo no século IV a.C. se vem a esboroar, alvo da crítica do seu tempo que a condenava, dizendo, para tal, que era uma prática vergonhosa, muito embora enraizada na praxis costumeira daquele século e mais especialmente dos anteriores. Um exemplo dessa ritualística, só para citar talvez aquele que de entre vários consideramos um dos mais emblemáticos, é o episódio inscrito no Fedro de Platão, em que a descrição da amizade entre erastes (adulto activo) e eromenos (jovem passivo) é amplamente divulgada. Numa sociedade em que para o efeito da pederastia o eromenos não deve corresponder ao amor do erastes – coisa que, a verificar-se, era aliás tida como imprópria – o Fedro desafia a norma social, relegando ao eromenos a possibilidade do amor recíproco, ao ponto de responder favoravelmente aos avanços do erastes, convocando-o a si. Concomitantemente, ainda no mesmo enquadramento, mas no contexto da mitologia, o tema associa-se a tópicos de rapto e violação, como ilustram os mitos de Laio e Crisipo e de Zeus e Ganimedes, para mencionar os principais. A premissa destes mitos assenta no enamoramento homossexual das figuras mais velhas pelos jovens ou efebos, a que se segue o rapto e subsequente violação destes por aquelas. A manipulação destes temas mitológicos no decorrer do século IV a.C. para uma tonalidade violenta pode desembocar na ideia moderna de pedofilia, o que não quer dizer que o conceito estivesse presente na antiguidade.
Por sugestão de um leitor, deixamos aqui também a referência à figura do puer delicatus da roma antiga, presente na poesia, assim como a tradição de poesia homoerótica do al-andalus, também perpassada por tópicos relacionados com a relação professor-aluno. Podem ler sobre o assunto aqui e aqui.
Por último, o tópico da relação erótica e amorosa entre adolescentes e adultos, nomeadamente na vertente professor e aluno, é, na contemporaneidade, de muito difícil abordagem. Deixamos aqui, mesmo assim, cinco sugestões de filmes que nos parecem os de maior qualidade com esse aspecto. São eles Nachttocht (1982), The Blossoming of Maximo Oliveros (2005), For a Lost Soldier (1992), Le Professeur, com Alain Delon (1972) e White Wedding, com Vanessa Paradis (1989).

