Deixamos aqui, num formato mais duradouro, o texto e as imagens celebrando e divulgando o génio de Santa Hildegarda de Bingen (1098-1179) – sem dúvida a mais brilhante figura feminina da Idade Média latina – que partilhámos recentemente nas nossas redes sociais.
Filha de nobres, Hildegarda foi entregue em criança aos cuidados da anacoreta Jutta de Spanheim, abadessa do convento de freiras beneditinas de Disibodenberg. Sucedeu a Jutta na liderança do mosteiro e viveu para se tornar uma das figuras distintivas do século XII. Foi, sem dúvida, a mais audaz e genial compositora medieval. Foi igualmente poetisa (tendo composto música para numerosos poemas seus), autora de uma peça de teatro – o Ordo Virtutum -, mística, teóloga, médica, interessada nas ciências naturais, fundadora de mosteiros, conselheira de reis, bispos, imperadores e papas. Além disso, criou uma língua construída, a “Lingua ignota” [língua desconhecida] e um alfabeto, o “alfabeto desconhecido” (cf. abaixo). Conhecida, ainda em vida e depois da sua morte aos 81 anos de idade, como “a Sibila do Reno”, correspondeu-se com as maiores figuras do seu tempo e foi encorajada na sua obra de polímata por figuras como São Bernardo de Claraval e o Papa Eugénio III. Fez, ainda, já na velhice, três viagens de pregação pela Alemanha, coisa, senão inédita, muito incomum para uma abadessa medieval e evidência da autoridade que os seus contemporâneos nela viam e do respeito que lhes merecia. Faleceu a 17 de Setembro de 1179 e foi proclamada Doutora da Igreja pelo Papa Bento XVI em 2012. As imagens abaixo (para as quais encontram também abaixo as legendas) são sobretudo iluminuras soberbas feitas para os manuscritos dos seus livros. São tiradas maioritariamente do Liber Scivias Domini (c.1141-c.1151), a sua primeira grande obra e primeira parte da sua trilogia mística, e do Liber divinorum operum (c.1163 – c.1174).
1. O “alfabeto desconhecido”, criado por Hildegarda na década de 50 do séc. XII, na altura em que também criou e fixou a sua “Lingua ignota” [língua desconhecida].
2. Primeira visão do Liber Scivias Domini, com texto e iluminura.
3. O homem divino, do Liber divinorum operum. É assombroso aquilo a que se poderia chamar uma prefiguração de um conhecido desenho de Leonardo Da Vinci.
4. O corpo místico da Sabedoria, do Liber divinorum operum.
5. Retábulo de igreja representando os pais de Hildegarda a entregá-la a Jutta von Spanheim.
6. Hildegarda a receber uma visão e a ditá-la ao seu secretário.
7. Outra iluminura representando Hildegarda a receber uma visão.
8. Gravura do séc. XVI representando Hildegarda na velhice.
9. Hierarquias angélicas, do Liber Scivias Domini.
10. Poemas de Hildegarda musicados por ela, com notação musical. Fólio 466r do Riesencodex, compreendendo a sua colecção de poemas musicados Symphonia armonie celestium revelationum.
11. A Criação do mundo em seis dias, do Liber Scivias Domini.
12. As estações e o cultivo da terra, igualmente do Liber Scivias.
13. Outra imagem do “alfabeto desconhecido”.
14. A verdadeira Trindade na verdadeira Unidade, do Liber Scivias.
15. A fonte da vida, iluminura do Liber divinorum operum.
16. A estrutura do cosmos, do Liber Scivias.
17. A virtude da Caridade, personificada: primeira visão do Liber divinorum operum.
18. A alma humana assediada pelas tentações, do Liber Scivias.