Idade Média no Feminino, Ana Vieira Vicente 

Texto de Ana Vieira Vicente (@ladyofthesparrowvalley). Revisão de João N.S. Almeida. Imagem: iluminura de Robinet Testard, século 15. Hulton Archive/Getty Images.

O papel das mulheres na sociedade é e será sempre um assunto sobre o qual várias leituras podem ser feitas e vários ângulos de discussão podem ser adoptados. Mas existe um ponto em comum na mulher ao longo dos séculos: se por um lado lhe foi, e é, pedido o papel de geradora de vida e a salvaguarda de uma nova geração, por outro lado existe a necessidade de equilibrar esse papel com um outro mais interventivo na sociedade.

Na Idade Média, a mulher começava o seu processo de maturação sempre ciente da sua função na família: fosse plebeia ou nobre, a responsabilidade da procriação, da maternidade e da gestão do espaço familiar privado era-lhe sempre incutida como um valor fundamental.

Christine de Pisan instructs her son, ”Jean de Castel”. *Title of Work: Collected Works of Christine de Pisan *Author: Pisan, Christine de *Illustrator: Master of the Bedford trend *Production: France (Paris); 1410-1411

Na classe social mais elevada, a nobreza, a mulher tinha uma função ambígua: se numa perspectiva era um activo mais materializado, servindo como moeda de troca e geradora de varões, noutra perspectiva tinha uma educação esmerada, aprendendo a ler, escrever, bordar, dançar e cantar, sendo preparada também para ter a percepção do seu território e do papel para o qual estava destinada. Acima de tudo, eram encaminhadas para serem futuras boas esposas e gestoras do espaço privado: é a mulher que controla o trabalho dos criados, as reservas de alimentos e o fabrico de têxteis, assim como a organização das despesas. Quando o seu senhor se ausentava, era também ela a assumir as rédeas dos negócios e a tomar decisões.

 No caso da mulher plebeia, podia ser-lhe dado o privilégio de trabalhar dentro das portas do castelo  senhorial, exercendo todas as funções necessárias para a lida e manutenção da casa, mas o mais frequente seria exercer trabalho no campo. Tinha por sua conta os animais de criação, a fiação de lã, a tecelagem e o fabrico de roupas e estava também encarregue da educação dos seus filhos mais novos.

Two women dining. Detail of Dining room scene from the Luttrell Psalter, written and illustrated circa 1325 – 1335 by anonymous scribes and artists.

Era evidente a multiplicidade de funções que lhe eram exigidas e muito poucos os direitos atribuídos, pois a sua vida era passada à mercê do seu pai ou do seu marido. Curiosamente, ao contrário do que se possa pensar, era na classe nobre que estas condições eram mais pesadas: nas mulheres do povo esta imposição masculina não era tão vincada, mas não deixava mesmo assim de existir. Em conclusão deste breve resumo, não podemos deixar de atribuir à mulher um tipo de importância que por vezes é experienciada mais na obscuridade: o modo particular como a mulher é, mesmo assim, um pilar na sociedade medieval e nas sociedades de todos os tempos.