Texto de Mafalda Ildefonso. Revisão de Márcia Marto e João N. S. Almeida. Imagem: colagem da autora.
O meu nome é Mafalda Ildefonso e assumo-me, em palavras simples, como uma weeb, isto é, pelas palavras do Urban Dictionary, “uma pessoa normal que gosta de anime e que talvez tenha algum “merch” relacionado com o tema. Aproveito para adicionar nesta caracterização o papel dos mangas, que são a origem de muitos animes. Estes livros são os nossos recursos, pois — falando em nome de vários weebs — quando nós esperamos por uma nova temporada do nosso anime favorito (que, por serem bonecos animados com uma animação cada vez melhor e mais detalhada), tal processo pode demorar, pelo menos, dois anos até aquela ser lançada. Isto faz com que a curiosidade nos faça desistir da espera, e acabemos por nos render aos livros.
Mangas, bandas desenhadas japonesas, têm o elemento “X” que faz com que cada um seja único e interessante. Para mim, um dos principais elementos que fazem este estilo de livro tão bom é a diversidade de artes de cada mangaka (autor de mangas) onde temos os desenhos rabiscados e descontraídos de Beastars de Paru Itagaki, que relata um universo de animais, uma total alegoria com o objetivo de criticar a sociedade atual, ou uma arte mais dramática e clássica de uma BD americana de super-heróis da série Boku no hero Academia de Kōhei Horikoshi, sobre um rapaz sem capacidades únicas, num mundo de pessoas com poderes, que procura tornar-se no herói número um. O seguinte elemento é a maior facilidade do leitor de visualizar o que o mangaka pretende representar, seja numa luta ou na aparência de uma personagem. Os livros que apenas se expressam por palavras deixam ao critério da imaginação do leitor tudo o que é descrito, mas isto é mais facilitado no manga, pois vemos pelos nossos olhos, através das ilustrações, a reação das personagens, a sua aparência e as lutas nas quais participam. Vemos o que o mangaka quer que vejamos, facilitando a capacidade de cada um de mergulhar na história, já que está tudo demonstrado, incluindo os movimentos das personagens. Sim, é verdade que torna a experiência de leitura um pouco mais restrita, pois impossibilita, de certa forma, a imaginação do leitor. No entanto, torna o ato de leitura menos cansativo e mais leve, já que nada tem de ser imaginado visualmente, pois está tudo demonstrado.
No que toca às histórias, há para todos os gostos e mais alguns. Devido ao facto de serem bonecos animados a dar ainda mais vida a estas personagens desenhadas no papel, possibilita que os mangakas se deixem levar pelas suas mais obscuras fantasias, ou pelos seus universos mais desejados. Há mangas de romances, como Given, de Natsuki Kizu, sobre o amor entre dois rapazes, onde um deles passou por um episódio traumático na sua vida amorosa, estando eles incluídos numa banda. Por sua vez, também há mangas sobre máfia, como o 91 Days, de Taku Kishimoto, uma história de um rapaz que procura vingar-se dos membros de uma Máfia italiana que matou toda a sua família, durante a Época seca dos Estados Unidos.
Agora, num lado um pouco mais pessoal, prefiro contar um pouco de como me tornei uma amante deste mundo. Há um pouco mais de um ano e meio, eu afirmava que anime não era muito a minha praia e rejeitava um pouco a ideia de experimentar. Um dia, alguém que me é bastante próximo, sugeriu que eu assistisse um episódio do anime The Promised Neverland, obra de Kaiu Shirai, já que é mais do meu estilo — Crime, mistério, terror, estratégia e um pouco de romance (sim, irónico). Experimentei, e confesso que não desgostei. Isto até começar a encontrar animes que me fizeram apaixonar pela história, como foi o caso de Tokyo Ghoul, criado por Ishida Sui , Kiseijū, de Hitoshi Iwaaki, Kimetsu no Yaiba, escrito por Koyoharu Gotōge, e Neon Genesis Evangelion, criado por Yoshiyuki Sadamoto, que me fizeram sentir obrigada a ler os mangas, para ficar ainda mais inteirada da história e da arte do mangaka.
No entanto, os mangas e animes ainda são vistos com um grande preconceito, devido, também, às atitudes dos weebs mais velhos, os verdadeiros otakus ( fãs obcecados pelos animes, mangas, e todo o Japão, em geral), que eram vistos como pessoas esquisitas, que ficavam caladas e se sentavam como o “L” (os entendedores, entenderão). Hoje, é algo normal e quase “fetichizado” pela sociedade, principalmente quando toca a mulheres a gostarem de todo este universo Japonês. Mas, com o amadurecimento e a modernização da sociedade, e até dos próprios mangas e animes, hoje é possível ser fã de animes sem parecer uma pessoa estranha, que tem uma body pillow do Levi. Por isso, e por todo o resto de que falei, hoje sou uma defensora deste universo, por mais dos seus variados problemas, que ainda são bastantes, como as personagens femininas ainda serem extremamente objetificadas, o machismo, etc. Quanto a isto, só nos cabe a nós apoiar aquilo que merece ser apoiado e criticar o que deve ser criticado.
Desta forma, termino este artigo com um grande conselho a todos os que têm um leve preconceito sobre todas estas formas de cultura: experimentem, nem que seja apenas um, e procurem pelo que gostam, que eu vos garanto que encontram, existem vários fãs que recomendam diferentes animes, e existem diversos sites direcionados a animes, como o Crunchyroll, ou até a Netflix,que tem alguns animes mais conhecidos disponíveis. É um mundo interessante e uma língua intrigante, com tantos benefícios e histórias para todas as idades e preferências. Deixem-se levar um pouco por este mundo animado e aproveitem toda a leveza que vem com ele.