Capa: Tiago Guerreiro
Editorial
Queremos desejar, em primeiro lugar, a todos os alunos da faculdade as boas-vindas a um novo ano lectivo, com fortíssimos votos de que seja o primeiro desde há uns tempos para cá a decorrer em franca normalidade. Queremos desejar em especial as boas vindas àqueles que chegam pela primeira vez à Faculdade de Letras. Esperamos que encontrem aqui, como tantas vezes é reforçado pelo Director e por muitos professores, um ambiente de profícuo estímulo intelectual, de diversidade de matérias disponíveis de acordo com os interesses de cada um, e de não tanta preocupação com as notas, a utilidade ou a empregabilidade, mas sim com a aprendizagem tão diversa e tão essencial que a formação generalista em artes e humanidades nos pode dar. Encaminhamos os novos alunos para uma página que elaborámos há pouco tempo: uma lista da rede de entidades da FLUL, oficiais e civis, desde associações de alunos, núcleos da associação de estudantes, grupos de redes sociais, publicações dos departamentos, publicações de alunos, etc.; podem encontrá-la aqui.
Reforçamos ainda que este é o espírito da nossa revista: o de dar voz a todas as vozes dos alunos, sem censuras, sem totalitarismos, sem viés ideológico. Todos os tópicos são possíveis, quase todas as abordagens admitidas, salvo — e estes são os únicos contra-exemplos de que nos estamos a lembrar — quando atentem contra a liberdade de expressão, valor fundamental para a prática plena do saber universalista das humanidades, ou quando envolvam apologia de violência. Fora isso, o único critério que nos pauta é a exigência que temos pela qualidade, pela fundamentação dos argumentos no caso dos ensaios, das recensões e das crónicas, e pela elevação literária sempre sujeita a melhoramento no caso da produção literária da poesia e do conto. Aceitamos também arte visual, preferencialmente series temáticas em geral sujeitas a curadoria.
É por isso que reiteramos, como regularmente vamos fazendo, que todos os alunos da faculdade, sejam de que nível forem, desde estudantes do primeiro ano até finalistas de pós-graduação — passando até por populações de investigadores e professores da faculdade, que também ocasionalmente escrevem para nós — podem estar inteiramente à vontade para nos fazerem chegar as suas submissões dentro dos géneros que já elencámos. E é importante dizer que, mesmo que não tenham uma produção ensaística ou literária completamente pronta, podem submeter-nos não só rascunhos como simplesmente projectos, notas sobre uma ideia que tenham, etc. O nosso processo de revisão e de publicação é extremamente aberto, dialogante e crítico de e para ambas as partes — autor e revisor — e resulta, quase inevitavelmente, numa melhoria do texto original e na sua potenciação até ao máximo das suas qualidades. Podem contar sempre connosco, pro bono, com essa colaboração benéfica para todos e que fazemos com muito gosto e apreço pela aprendizagem das artes e das letras relacionadas com a escrita de um texto.
A nossa equipa, constituída maioritariamente por alunos da faculdade, está também sempre aberta a todos e quaisquer alunos que queiram connosco colaborar, seja no processo de seleção, revisão e edição de textos, seja na participação e na discussão das nossas atividades e prioridades editoriais. Estamos também a pensar, em breve, abrirmos muitas das nossas reuniões de direção aos estudantes e ao público em geral: é natural que assim seja, pois não temos quaisquer segredos no nosso modo de proceder, e temos todo o gosto em receber feedback e sugestões de todos.
Esperamos, como dizíamos, que o regresso às turmas presenciais se mantenha assim ao longo do ano, pois o ensino é, e deve ser, uma experiência presencial; e mesmo que as lotações das turmas, como todos sabemos, impossibilitem a experiência de proximidade e de diálogo directo entre colegas e professores que seria desejável, é mesmo assim absolutamente bem-vindo o regresso a um regime de cara-a-cara, embora de toda a experiência com as plataformas virtuais muita coisa boa tenha sido retida e que esperamos que continue pontualmente a acontecer. Queríamos deixar aqui, nomeadamente, uma nota e um apelo a toda a faculdade e principalmente aos seus professores, assim como aos alunos: sintam-se à vontade, admitam e “normalizem” o registo das aulas em formato áudio-visual. É certo que não fará sentido esse mesmo registo quando estas decorrem numa escala muito reduzida, com entre 5 a 12 pessoas em redor de uma mesa — no formato dos seminários de pós-graduação, por exemplo; mas quando estas são, como tantas vezes são, bem ou mal, basicamente palestras, como tantas vezes sucede nas licenciaturas, a gravação dos seus conteúdos nesse formato seria não só imensamente bem-vinda como é já prática comum em muitas universidades do mundo.
Com um enorme atraso, publicamos hoje o suplemento à edição 85, constituído por alguns itens que tinham ficado esquecidos, uns que não tínhamos tido tempo de rever, e outros que entretanto foram chegando. Temos gosto de apresentar um breve texto biográfico sobre Che Guevara, uma recensão ao filme The Shoes of the Fisherman, com Anthony Quinn, uma crónica sobre a biografia comentada da banda Metallica e uma recensão a um disco dos Moonspell, dois contos, um minimalista de Yasmin Freitas e o outro mais extenso de José Neto, duas crónicas, uma sobre banda desenhada japonesa e outra sobre a pandemia, e, como de costume, poesia, desta vez profusamente ilustrada por dentro e por fora. Desfrutem!
João N.S. Almeida, director-adjunto, em nome da direcção OFL.
Um texto sobre política e outro sobre religião
Kyril Chernov, estudante russo, a nosso convite, escreveu-nos um esboço biográfico breve de Che Guevara; Andreas Lind uma recensão ao filme As Sandálias do Pescador, de 1968, o qual oferece uma perspectiva radical sobre o catolicismo contemporâneo.
Um artigo e uma recensão sobre heavy-metal
Pedro Lopes escreve-nos sobre o percurso musical dos Metallica, e Magda Martins faz uma recensão ao disco 1755 da banda portuguesa Moonspell.
Dois contos
Um conto/poema minimalista, de Yasmin Freitas, e um outro mais longo, de José Neto, sobre doppelgängers.
Duas crónicas
Mafalda Ildefonso escreve-nos sobre banda desenhada japonesa nas formas manga e hentai, e Fábio Moniz sobre um caso de desinformação anti-vacinas no contexto da pandemia COVID-19.
POESIA
Adolfo Rolando Dias, com ilustrações de David Lynch, e Magda Costa com textos e fotografias da sua autoria.
Desejamos a todos um excelente ano lectivo com liberdade de pensamento e de expressão, espaço para debate, ideias novas e velhas, e com os mais sinceros votos de que estejam na Faculdade de Letras porque querem, e que estejam com gosto no que estudam e no que trabalham. Saudações em nome de toda a nossa equipa.
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