Três poemas, Maria do Rosário Rocha da Silva

Textos e fotografia de Maria do Rosário Rocha da Silva. Revisão de João N.S. Almeida.

<< Sem título>>

O fumo que me escapa esvai-se no prazer da alma

Com gigantes me deito mas acordo

Sozinha

Procuro conforto na secura do lençol e nas raízes da hera

Procura-me

Excito-me

Mas fria fico – sem ti, sem alma, sem carne

Éter


<< Sem título >>

E do nada possuíste o meu corpo, a mente, fizeste estragos, farrapo

(de)mente

Procuro por algo que ainda não possuo

Mas agarro-me ao ventre.

Estragas a cada noite no teu regresso.

A sede, a respiração, a dor.

Noite após noite.

Grito por socorro, lágrimas escorrem

– emudeço quando o pânico se instala.

No ventre nada existe. Está vazio.

Calma.

Que pesadelo.

“Sofres por quem ainda não geraste. Mas amas como se vivesse…”

A ansiedade larga o meu corpo

– tremo, um murmúrio saí de mim…

“Para quem cantas nesse embalo…?”


<< Sem título >>

Elevo os meus olhos ao mar, nele te procuro – apenas o som das ondas…

Vaza e enche

Como a respiração. Mas sem ti.
Não retornas – talvez nunca.

O mar tudo nos rouba quanto nos dá.
De mim leva,
Afoga e sufoca.

No turbilhão das nuvens imagino-te; feliz, sorridente, jovem eterno.
Flutuo.

Flutuamos.
Abraçados no reencontro eterno,
Correndo num campo de papoilas