Textos de H.M. Dantas. Revisão de Lourenço Duarte.
AOS AMANTES
Ardi toda a noite
Em suave lume de amor.
A minha pele fervia.
A minha cama alagava em suor.
Não tinha leito, tinha abismo.
Mais que vigília, inferno.
O teu rosto, a retaguarda
De todos os pensamentos.
Então é assim, amantes,
Que sofremos.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS
A minha amada conduziu-me
pelo jardim das delícias.
Deu-me a conhecer
O perfume das rosas custodiadas.
Arrancou uma torrente da rocha
Para saciar a minha sede.
Adormeci, em paz, nos seus braços.
Pus alegrias no lugar dos cansaços.
Fui feliz.
APÓSTROFE AO CORAÇÃO
Ah, meu coração, não te quero!
Outro te tome assim.
Sempre a bater longe de mim,
Dás-me vida insincero!
Quem te fez como és, alheio?
Quem mentiu que te sonha?
Porque há sempre quem se ponha
Entre ti e mim, de permeio?
Ah! Põe um fim ao meu castigo:
Parte em busca do teu senhor.
Meu coração, meu inimigo,
Sê um nobre desertor!