Texto de Sebastião N. Viana. Revisão de Ana Guerreiro.
Gonçalo Dias tinha 28 anos, fora, nos últimos cinco, um importante membro da praxe académica de Lisboa, tendo finalizado sete matrículas antes que o ócio lhe permitisse licenciar-se em História. Apesar de dedicar sete anos à nobre ocupação de estudante, não se pode dizer que fosse um sujeito alcançado. Caso não lhe fosse tão custoso deslocar o corpo ao átrio onde se lecionava História da Antiguidade Clássica teria dado fim prematuro à carreira de praxista. Mas era-lhe custoso… era grande, a vontade de relaxar-se e acamaradar à medida que Bock lhe indrominava a mente, vivia bebendo a existência, mergulhando-se em sensações que, por mister, uma vida laboriosa raramente permite, e quando permite nunca se esquece de cobrar.Regressando a casa, jantava na companhia da mãe que, a custo, o criara sozinha. Depois, vestindo a noite na capa, como uma sombra malfazeja ia-se arrastando por entre a luz de candeeiros elétricos, cintilando tal qual candeias, e pela penumbra cada vez mais boçal a que se entregavam estreitas vielas, até, por fim, chegar ao antro onde, bebendo, dançava, procurando cativar o olhar atento de Fêmea. Raras vezes se quedava por casa e quando as economias maternas falhavam, vendia aos novos alunos apontamentos que anos antes lhe haviam cedido e que porventura já seriam obsoletos. Assim vivera Gonçalo Dias, durante a vida académica, o bestial amor de um gorila que se deixa extasiar pelas feromonas do estro.
Foi num desses escapes noturnos que, no quarto ano académico, seduziu a mulher com quem por mais tempo se foi conversando. Durou, essa relação, quase um ano, terminado abruptamente, quando Gonçalo tivera a desagradável surpresa de saber que não era o único a granjear por companhia o carinho de Maria Vilas. Após o fracasso resolvera-se a democratizar o seu amor, dando-se a noites ainda mais luxuriosas. O que começava com um beijo no pescoço, raramente deixava de ir a união de facto com sensações que cedo escapariam à memória, se é que, no estado a que muitas vezes chegava, memorizar lhe fora possível. Madalena, mãe de Gonçalo, como fosseproprietária e gerente de um pequeno café local, deitava-se muito antes de ver o filho chegar das “coisas da faculdade”. De humilde ascendência, via no estudo uma hipótese de ascensão social e de obtenção de regalos que não tivera, mas é certo que se alguma vez tivesse visto o rosto franzino, tisnado a rubro, com que chegava o seu Gonçalo,perdida na dor, teria mergulhado em profunda depressão. Quando o académico finalmente deixara de o ser fez-se uma festa com a recomendação de que prontamente arranjasse emprego, mas o emprego não chegava… Gonçalo, que estudara sete anos, pensava, por comodidade, singrar-se dali a umas décadas, novo dono do Café, de modo que a custo foi enviando currículos a empresas que nunca aceitariam um historiador. Talvez fosse obra da justiça providencial que, de Madalena, apenas restara o letreiro do botequim, anunciando portuguesissimente: “Café da Madalena”. A mulher tivera a pouca sorte de, pelo fim de outubro de 2012, ascender aos céus prematuramente devido a um acidente de viação, levando a que os planos de perpétua libertinagem a que Gonçalo se queria dar não chegassem a frutear.
Lembro-me perfeitamente de ver o ar pensativo, quase depressivo com que, no dia dois de novembro, Gonçalo via baixar o caixão. Na semana que se seguira, o Café da Madalena era reaberto com o novo dono que, entre suspiros ora por saudade de Madalena ora por saudade da vida que até aqui levara, começara a acordar a tempo de servir o pequeno-almoço aos trabalhadores mais matutinos. Até terminar o ano, talvez pela novidade da nova vida ou pelo convívio com a vizinhança compadecida, as suas emoções não se haviam turvado, mas lá pelos comenos de janeiro, o punhal que se cravara no peito de Gonçalo havia sido desenterrado e uma profunda dor ia-lhe tingindo de negro o semblante. Vendo-se sozinho, relanceava nas horas mortas o passado, vendoengrandecidos os sacrifícios de Madalena. A sobriedade com que era obrigado a gerir o negócio levara a que pela primeira vez em oito anos, não só ajuizasse planos que distassem mais de duas semanas do presente, como tivesse lucidez suficiente para condenar os excessos da boémia que levara. Ainda assim, a nova vida assemelhava-se-lhe a uma fotografia opaca que se faz à turba indistinta, um sonho elusivo que a memória não conseguiu reter. Foi, com efeito, pelo dia 14 de fevereiro, contemplando o lugar onde se costumava sentar Madalena, que pela primeira vez chorou de solidão, não por uma amada, mas por sua mãe. Fora essa a primeira vez que percebera que sua mãe já estava na outra margem, e que até chegar a sua vez de picar o bilhete não poderia embarcar. Fora esse o momento em que acordara do sonho e deixara que o seu suplicioso coração se esvaísse em pranto. Como a lâmpada não dissipasse a penumbra em que triturava dois pastéis de bacalhau expirados, foi convidado a meditar, tendo como lembrança arranjar uma esposa, uma mulher bem-parecida com quem pudesse partilhar momentos singelos e começar uma família. Este “Casanova”… Quem dois anos antes o vira… jamais poderia acreditar como verosímil que tal homem ambicionasse uma vida séria, mas ei-lo imaginando os carinhos de uma esposa!
Fechando as portas às cinco, abria portas ao silêncio que de dia para dia tornava mais insuportável o fardo que o ia acompanhando. O passar do tempo desabrochava numa paixão ardente que o pressionava a levar a cabo a recém descoberta ambição, quando deu por si estava, pouco antes da hora de fecho, a dar à dona Hortensesatisfações da sua solitária conduta. A dona Hortense era uma rechonchuda septuagenária, de olhar amável, que parecia estar a dez anos de se reformar, gostava de beber um bom copo de vinho, de ver a novela habitual e de participar em importantes consórcios de reformados da vizinhança, visando informar-se dos escândalos mais recentes. Ouvindo as preocupações do Gonçalito, prontamente o censurou por não ter desabafado mais cedo, que tinha uma netinha um pouco mais nova que o menino e se se dessem bem e se se gostassem, como era o filho da Leninha que Deus tem, ficaria muito contente por ainda conseguir viver para os ver casadinhos, que só Deus sabe quando a gente embarca!
Ao chegar a casa deu por si a ponderar que mesmo que a dona Hortense lhe apresentasse uma moça decente, não saberia como lhe deveria falar! Decerto que os truques que utilizava nas noitadas não seriam os mesmos que se utilizam com alguém que se quer para esposa… Como ansiasse por uma resposta, ligou o computador e fez bom serão pesquisando dicas de relacionamento. Foi nesses comenos que deu com um reclame de um site de encontros e lá efetuou o registo, dando cara com uma fotografia que lhe parecera chique por apresentar sobrancelhas castanhas, pelo porte, de virilidade soberbas, realçando um olhar verde, feral, que se deixava placidamente encaixar num cabelo negro extremamente ondulado, uma boca pequena, mas grossa e um finíssimo nariz grego. Os dias foram passando, e a dor começara a destilar-se em ansiedade por mulher… Mas, para sua sorte, pelo começo da Primavera, um pequeno e-mail veio preencher o vácuo com um amigável:
Olá, Gonçalo,
Chamo-me Verónica, tenho 29 anos, gosto de cantar, dançar, passear pela natureza, estou muito sozinha e, por isso, também procuro um relacionamento sério, pareces querido, mas não escrevo mais por agora porque não sei se ainda usas este e-mail!
Mas Gonçalo usava! E como sentisse o rejuvenescer do coração, logo se apressou a dar resposta:
Cara Verónica,
Ainda uso este e-mail, também me pareces querida, como te sentes sozinha podemos trocar mensagens todas as noites, gostava de te conhecer!
A partir desse dia, todas noites Gonçalo escrevia para o e-mail que se quedava por baixo da fotografia de Verónica, que deixava ver uma face longa de tez queimadapelo sol, vista de perfil e emoldurada por um cabelo castanho que seguia para baixo dos ombros, tendo como apontamento um olho azul semicerrado. Verónica escrevia com impecável assiduidade, escrevendo cada vez mais linhas, e se escrevia menos pedia desculpa e lamentava-se por ser uma rapariga com tão pouca imaginação que não estudara tanto como Gonçalo… O rapaz, como se deixasse encorajar pelo orgulho, iaescrevendo mais umas linhas e, depois, recostando-se ao travesseiro, o semblante luzia-se-lhe de alegria, contagiando o espírito que de esperança se ia, esbraseado, a navegar pelo éter.
Nas vagas horas de silêncio em que, esperando ver entrar cliente, subia o som ao radiozinho de bolso, meditava, imaginando os contornos de Verónica, e como todas as mulheres imaginárias teria um corpinho perfeito, levando a que, relanceando o relógio de parede, arfasse enfastiado, desejando regressar a casa. Quando via dona Hortense, permitia-se-lhe a desenhar os contornos da neta, que, como avó que era, se queixava de a ver definhando numa tal “a nora é que s’ia”, mas que fora não saber comer era muito boa moça! Gonçalo ia anuindo modestamente, reiterando o desejo de “um dia destes” conhecer a rapariga. Ah, “um dia destes” seria decerto…! Perdoe-me o pedantismo da retórica, ó compreensivo leitor, mas qual crê ser o conteúdo de “um dia destes”? Qual o conteúdo desta expressão de inerte raiz nascida, a não ser a missão de se manifestar interesse por uma prospetiva de futuro, que, querendo Deus, se terá a boa fortuna de não ver concretizar? Cortesias com que um desinteressado se pode mostrar amável, e como a ambiguidade permita o ajuizamento da volição do remetente por parte do recipiente, que muitas vezes será levado a indagar e a depositar no enunciador de “um dia destes” acrença que lhe pareça de maior conveniência, pelo que dona Hortense não hesitou em tomar como dogma que a solidão tornara o Sr. Gonçalo mais frio, pelo que o cambalacho em que tão ciosamente labutava seria uma obra de virtude com que,elevando Gonçalo ao Altar do Senhor, faria uma obra de grande altruísmo que culminaria em receber dos céus um anjinho de bisneto.
Como querendo precaver-se em relação aos avanços de alcoveta de dona Hortense, decidira Gonçalo requerer a Verónica uma mancheia de fotografias do seu corpinho, que o recreio visual iria decerto armar-se proveitoso no encurtamento do tempo que iria até à materialização de um encontro! Mas a Vecas (como lhe chamava Gonçalo no âmago do seu carinho) apenas lhe enviou uma fotografia do que pareciam ser membros inferiores. Vulgo: pernas. Dizendo-lhe com atrevimento que “só se veria o resto” quando a distância que os separava deixasse de existir, que não eram senão uns150 quilómetros e a vontade de os fazer! Ah… A distância!! Mas porque haveria Verónica de não ter nascido em Lisboa..? No fundo… eram um Romeu e uma Julieta no século XXI, cheios de contrariedadezinhas.
Olhando para as pernas de Vecas, surpreendeu-lhe a robustez tocada por um pouco mais de bronze do que, pela fotografia de perfil, se poderia imaginar. Achou que o bronze deveria ser resultado da utilização de uns calçõezinhos… Estaria o resto do corpinho também tingido pela mesma cor? Ah… Impacientava-se!… Não tendo conseguido demorar mais de 24 horas a decidir por aquilo que horas antes lhe parecera de penosa execução. Iria guiar o seu Porsche de segunda mão por cerca de duas horas e passar um fim de semana na terra de Vecas. E estava todo justificado perante o auspicioso tribunal de sua consciência, todo o esforço teria como objetivo o passatempo deleitoso de estrear-se, em companhia feminina, na prática de dignificantes oaristos. Ecomo depois de a conhecer intimamente, poderia sempre deixar-se desenganar pela pessoa real de Verónica, que a julgar pelos e-mails lhe parecia serena como os anjinhos do céu… teria sempre a possibilidade de reorganizar os seus esforços e perseguir o amor da neta de dona Hortense, quid sapit, dando à anciã o prazer de lhe ver engordar a cachopa.
A resolução materializara-se num curto e-mail que em tom de assertiva virilidade dizia:
Querida Verónica,
Acho que chegou hora de vermos encurtar a distância que nos separa, quero ver-te por primeira vez. Passarei o fim de semana em tua terra, há espaço para mim?
Rapidamente chegou resposta afirmativa, pondo em andamento os mil esquemas que durante meio dia se foram depositando na mente de Gonçalo, que indo passar algum tempo em casa de Verónica havia de levar uma prenda. Primeiro ponderou em passar pela florista, mas oferecer flores a uma mulher que viva no campo parecia-lhe má lembrança; depois pensou em comprar-lhe uma saia verde que há dias vira exposta numa montra da Rua do Comércio, mas nunca lhe perguntara as medidas da cintura;decidira-se a levar um artigo de bijuteria, uma pulseira de prata que trazia pendurado um minúsculo golfinho que, embora fosse insignificante à luz do dia, no escuro emitiria um imponente brilho esverdeado, a mocita haveria de gostar! Calhou a viagem no último dia da primavera, como se o calor que se sentia fosse a forma de a Divina Providência garantir que o desejo que o impelia a viajar eructasse em labaredas de paixão, ou assim sonhava Gonçalo…
Como saísse por volta das dez horas, chegara o amante, pouco depois de almoço, a um terreno que fica nos arredores de Tomar e que vai pelo nome de Venda da Gaita. Por aqui e por ali os passarinhos iam chilreando, ora de alegria pelo primor com que viam cintilar o sol nos morangueiros e nas amoreiras, que por esta altura lhes iam dando farto sustento, ora de exasperação pela sede que nem por graça do Nabão se conseguia enganar. Apeando a viatura, estreando um candil de viagem a fartos golos, procurava Gonçalo uma alma a quem pudesse perguntar pela família Farinha, tal como lhe recomendara Verónica. Havia uma casa no horizonte. No vergel um jovem que rondava as três décadas de existência labutava, todo ele absorvido pela arte de plantar tomates.Gonçalo aproximou-se e dirigindo-se-lhe naquela voz enérgica com que tantas vezes cumprimentara a clientela, disse assim:
— Bons dias, amigo! Conhece por estas bandas uma Verónica Farinha?
O homem parou o que estava a fazer e, tirando o chapéu de palha, relanceou-o de alto a baixo, e depois com um sorriso respondeu numa voz robusta:
— És o Gonçalito? Conheço perfeitamente. — E apontando a casinha humilde,continuou: — Entra, senta-te um pouco que a viagem deve ter sido longa, para um alfacinha…
E Gonçalo, atordoado pela familiaridade com que era tratado, balbuciou:
— Como sabe que sou Gonçalo… Como sabe que venho de Lisboa…? Falou com a Verónica?
— Falei, mas… mais do que isso… também falo contigo. É que… nós tínhamos em mente um encontro tão bonito para hoje… — disse o homem em tom sedutor.
Gonçalo recuara, consternado, uns quatro passos, como que tendo começado a compreender da ignomínia que se vinha tramando contra a sua pessoa. Olhandoatentamente para a face do seu interlocutor, via uns olhos azuis que encaixavam numa face longa com uns cabelos castanhos e bigode negro. E não era que, de perfil e sem o bigodinho, era a face que tanto desejara e que tão feminil lhe parecera?!
— Na… não pode ser! — gemia Gonçalo, dando meia volta.
— Gonçalo, não queres a tua Verónica? Dizias gostar tanto de mim e agora falas-me assim? — Dizia, crescendo de braços abertos para Gonçalo, todo pronto a pagar os carinhos que devia ao seu Gonçalito. — Anda, que tenho ali bom sítio para descansares…
Quem me contou deste incidente asseverou-me de que terá sido um milagre que Gonçalo não tenha tido de pagar multa por excesso de velocidade, já que acometera a proeza de vir de Venda da Gaita a Lisboa em apenas uma hora! Embora tivesse encurtado o tempo de viagem, era como se o seu pensamento estivesse materializado num tronco que vinha navegando pelo Nabão e que gemia num baque de habitual suspiro sempre que encalhava num rochedo. O luto do coração não pudera manter-se,pelo que resultaria num luto de economias; e embora não fosse acudido pela vontade de trabalhar, à pressa o arreatara o fado para trás do contador e aí se ia quedando desde a alvorada até ao fim de tarde, raramente quebrando a inércia que se estendia pelos membros, impregnando os músculos que na porta do estabelecimento encontravam um estímulo revitalizante, descendendo minutos depois do serviço à habitual dormência.
Foi na segunda semana de julho que o comportamento de Gonçalo teve súbitas melhorias, quando o sininho anexo à porta deu sinal da entrada, em companhia de dona Hortense, de uma jovem estudante de leis, claramente em sobrepeso, cujo semblante mais se assemelharia ao de um zorrito que ao de pessoa. O proprietário sorriu,cumprimentou-as casualmente:
— Traz aqui uma freguesa bastante bonita, ó dona Hortense! Que vai ser hoje?
Dona Hortense pediu uns pastéis de bacalhau, ajuntando-lhes a muito credível justificação de que a rapariga mal comia. A rapariga foi-se acanhando, ora pela censura que ao proveito à mesa lhe faziam ora pelo piropo que de semelhante só recebera de sua mãe. Como a sede de mulher fosse aniquilando o íntimo de Gonçalo e fosse a primeira vez que a jovem por lá passava, dera por conta da casa vários pastéis de nata com que avó e neta se podiam ir entretendo. Há pessoas que de dia para dia vão ficando mais bonitas, a rapariga que se chamava Beatriz Vieira era o oposto. Primeiro o desejo fizera com que parecesse bonita, depois fora o amor que se seguiu das visitas, que num espaço de cinco meses se iam sucedendo e que lhes ofuscara a realidade.
Há uns dias passei pelo Café da Madalena, que era mais um “Café da Beatriz Vieira”. Como a zorrita fosse exímia nas artes de culinária, o café começara há uns oito anos a servir almoços. O bacalhau deve ter ocupado um lugar especial no coração de Beatriz, que fizera do bacalhau com natas a especialidade da casa. Apesar do passar dos anos, Gonçalo ainda a crê tão bela como quando lhe pousara os olhos em cima. Dizem as más línguas que ela deve ter fortuna, mas a única fortuna que se vê são os dois “Gonçalitos” que ficam fazendo trabalhos de casa a um canto, quando vêm da escola, e que de beleza (graças a Deus) são o retrato do pai. Dona Hortense, apesar das normaisdificuldades de locomoção que uma pessoa de 82 anos se vê obrigada a enfrentar, ainda visita o café, sentando-se no lugar de costume, censurando inexoravelmente os hábitos alimentares dos demais… Gonçalo costuma dizer amorosamente que quando ela não vier irá levar-lhe o pequeno almoço ao Alto de São João, e assim, a tom de chiste, a velha vai-lhe pedindo uns pacotinhos de açúcar para que se apresse o caminho da cova.O amor tem a sua estranha simplicidade, Gonçalo que lamentava a perda da mãe, encontrara felicidade na companhia de dona Hortense e na simplicidade de Beatriz. Ah… Beatriz! Uma rapariga caricata que até parece menos feia quando leva posta uma pulseira adornada por um minúsculo golfinho…
Fim.