Texto de Diogo Mendes. Revisão de Ana Sofia Souto.
NÃO
Nota Ao Próprio:
Não vou ser a luz elétrica,
Não vou ser o comboio,
Não vou ser o cimento,
Não vou ser a espera,
Não vou ser o desagrado,
Não vou ser a amargura,
Não vou ser a resignação,
Não vou ser a dor nos olhos,
Não vou ser o fim de tarde,
Não vou ser a nostalgia,
Não vou ser o médio,
Não vou ser a solidão,
Não vou ser a confirmação,
Não vou ser o filho,
Não vou ser o desinteresse,
Não ser a hora,
Não vou ser a força,
Não vou ser o trabalho,
Não vou ser a prova,
Não vou ser a escolha,
Não vou ser o tempo.
Chegar aos 23 com os olhos mortos de vez, em sonhos que não deixaram nada (senão a incapacidade de sonhar).
A cara feia, consumida por beijos defuntos,
“Algumas vez vivos?” – Irei perguntar.
Repetido, repetido, repetido, como os cartões colecionados em criança,
Sem hipótese de troca com qualquer colega de vida
Obrigado a carregar na mala este corpo, cada vez mais pesado,
Que se arrasta sem qualquer ajuda da alma, cada vez mais nula, cada vez menos.
Não serei nada disto,
Não serei nada,
Não serei,
Mas se for, que o seja por amor
Ou propósito maior.