O Tempo Acabou, Sofia António

Texto de Sofia António.

O tempo acabou, amor
A cidade que nos viu nascer
cai, por fim
Nada mais há agora que poeira e cinza,
Aos nossos pés, o apocalipse

Ajoelhamo-nos, qual condenado à forca,
à mercê dos quatro elementos
Queimamo-nos no fogo e com a carne
atiçamos o fogo fátuo que perpetua,
residente

Abrimos as quatro mãos
num espirrar da esperança,
Palmas viradas para cima, que em poucos segundos enegrecem
Inalamos o fumo de nossos ossos,
E iniciamos a prece

Sob este mesmo céu, naquele dia,
fizemos juras, amor
Destronaste uma rosa e deste-ma,
Entreguei-te a mais pura flor
E vi-te crescer em mim

Mas, ai…!
o silêncio incomoda agora
Já não te chamo, amor
Mas não desconheço que todos os dias constróis
uma cidade silenciosa