Texto de Beatriz Vivaldo Santos. Revisão de João N.S. Almeida.
I.
A procura incessante
De uma réstia de esperança,
Da acolhedora luz
Do bom porto à vista,
É puramente frustrante.
Sabermos da tormenta não haver sinal
Olharmos a calmia do mar,
Límpido reflexo do vasto céu,
Mas na ofuscante luminosidade do dia
Cegamente procurarmos
Algo que sem a nossa escuridão
Não brilha.
Pela tempestade ansiamos,
O mar encrespado relembramos,
Para do bom porto alcançado,
Nunca a procura cessarmos.
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II.
Entrego-me ao mar.
Entrego-me às correntes.
Deixo que me arrastem da firme terra
Que me lavem as salgadas lágrimas.
Agora sem rumo, flutuo.
Sabe tão bem não lutar.
Entrego-me ao mar
E à sua vontade.
Desaparece o horizonte,
Fundo-me no imenso azul.
Não estou perdida,
Sinto antes liberdade.
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III.
O vento levou-me as cinzas
Pois toda eu ardi.
A chama da dor consumiu-me
E tudo o que alguma vez conheci.
O vento levou-me as cinzas,
Sinto-me incorpórea e dormente
Que o seja assim
E que o sentir nunca volte.
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(IV. Prólogo, Rádio Aldaar Albayda)
(————) Tenho o coração acorrentado. Fui eu que o agrilhoei, em/nas/um/as minhas inconscientes expectativas (…) e sonhos envolveram-no nas correntes, a vulnerabilidade dele iludiu-me a fechar o cadeado e a entregar-lhe/me/vê a chave. Subjuguei o meu dia a dia à sua felicidade. Esperei que, se não querendo ter-me e à MInha prisão, que pelo menos fosse capaz de dela me libertar (~~~~~~). A chave era sua, afinal. Mas ele simplesmentelançou-a para o mais longe possível e desaparec(…). Não deixou rasto algum; a não ser este frio e platinado gelo, que arrasto todos os dias comigo e que ———— o meu pobre coração ferido. Por vezes esqueço-me da minha própria enclausura, mas o som das correntes (zzzzzz… tsts), o seu frio tilintar, despertam-me da inconsciência desta TEMPORÁRIA paz. A única solução (nunca) é deixar esta agrilhoada parte de mim, do meu coração, para Trás. Terei de a “arrancar” à força de mim, abrir uma ferida para poder sarar. (.;) Mas por enquanto não me consigo livrar desta parte de mim, poluída pela solidão e saudade (ZTT). Porque é que sinto que ainda preciso dela?
(——— o vento lá fora).