Dois poemas, João Rebocho

Declino

Declino como a tarde, enternecida,
e que rompe a cidade num suspiro
morto, e caminha numa conhecida
rua, na sombra da manhã de inverno.

No bocejar da janela apagada
e o clarão de bronze do candeeiro
aceso, e a cidade então levantada
em fogo, na tarde em cinzas declino .

As mãos ensaiadas

Enrodilhado em palpitares
pela brancura dos teus olhos,
o meu peito, como que um leito,
jardim de dedos ensaiados,
que na palavra abre-se ao meio,
no toque rasga-se em dois corpos.