Poemas de Clotilde Mota. Revisão de Tomás Ferreira.
I
A Casa da cor dos amores-perfeitos
Da minha casa da cor dos Amores-Perfeitos,
Inserida num círculo dimensional alargado,
Situada quase a paredes meias
Com o Castelo de Aldeias,
Brotavam em seu redor todas as sortes
Da flor considerada como o rei dos jardins,
Os amores-perfeitos … universais,
A flor característica do Outono e do Inverno para embelezar
E dar vida a jardins e terraços em estações do ano
Consideradas as mais tristes do globo terrestre …
Amores-perfeitos simétricos, assimétricos, brancos, vermelhos, amarelos, roxos …
Tal arco-íris mimetizado nas suas cores aparentemente imutáveis.
No ar, pairava um misto de odores
Provocando em cada ser humano emoções e reacções sinestésicas diferentes.
Vinda de longe, de muito longe,
Adivinhava-se a fragância de várias plantas silvestres,
Pulverizadas no espaço gasoso, etéreo, entre mim e ti.
E em noites amenas, de luar sereno, convidativo à reflexão,
Os seixos resplandeciam do fundo dos ribeiros de águas cálidas
Nos seus diferentes tamanhos e formatos,
Como se fossem puros e incólumes diamantes.
Serpenteando e embelezando um vale sem nome,
Num lugar francamente anónimo mas paradisíaco,
O ribeiro avançava no seu curso pacato engrandecendo e valorizando
A minha casa, a casa da cor dos amores-perfeitos.
E foi assim, perfeita, acolhedora e muito colorida
A casa da cor dos Amores-Perfeitos idealizada nos meus sonhos.
II
Sem mácula
Estrada obstruída. Chorei contigo,
Chorámos os dois,
Um choro magoado
De tristeza, de saudade.
Virada para a parede branca
Daquela casa
Da cor dos amores-perfeitos
E que foi nossa.
Sem mácula! Inócua.
Sem forma precisa.
Quem a completa
No cimo da montanha?
Quem a contempla?
Quem a completará
Depois do meu eu?
Paisagem distante
Bucólica. Comovente,
Perde-se no horizonte.
Salutar.
Num todo.