Textos de Cláudia Riscado. Revisão de João N. S. Almeida.
O NAUFRÁGIO
A vida falha-nos como uma lâmpada desgastada –
é nela que confiamos a jornada;
é ela que bruscamente se apaga
sobre o navio desgarrado que naufraga.
Sem porto sinalizado e ciente da tempestade,
só lhe resta a esperança
que chegará a bonança,
mas de pouco lhe serve a vontade.
Já não é a força humana que o guia
(o leme sucumbiu à maresia!)
Os ventos, as ondas, os rochedos conspiram
sobre o golpe final à embarcação.
Todas aquelas almas exigiam
E, assim, desenharam a conclusão.
Jaziam os corpos na pacífica areia,
brutalmente cuspidos pelo mar.
Saltou-lhes da algibeira
a esperança infinita de voltar.
E as almas que o vento enleia
bailavam tresloucadas –
sobre o cruel testemunho da lua cheia
foram violentamente libertadas.
O RETRATO
Vestido vermelho
banhado a ouro;
coroa de louro
deslumbra o espelho;
sapatos de cristal;
colar de pérolas;
elegância imoral
e brincos celtas;
olhar sedutor;
sorriso inocente
que, desprovido de dor,
embala a corrente;
eternamente inerte
e divinamente mudo:
pintura que liberte
mundos ao infinito mundo.