Por quem os sinos dobram
na cidade onde nasci.
A avó, aos domingos
levava-me à missa, mas a missa
como a vida, para mim sempre foi latim
Por quem os sinos dobram
lá longe, na capital.
Escrevo poemas porque procuro o Belo
mas o Belo onde está, afinal?
Eu faço versos feitos de louça
Partem-se em mil na escuridão.
Eu faço versos para quem ouça
tropeço em mim, acordo o cão.
Aliás o cão, poeta-vigia
Sempre à procura de um verso a mais
A mulher-enguia à espera na cama
“Quando é que vens?”
Já vai
Não vês que escrevo
O que pretendes?
Dentro de mim tenho contas
por pagar. A mulher chateia-se
O poeta sente
E lá longe os sinos sempre
A dobrar.
Lourenço Duarte