RGA 2021, David Frazer

Ilustração de David Frazer.

O ano é 2021: os estudantes da FLUL estão em RGA. Debate-se a decisão do diretor de transformar o Anfiteatro I num aquário feito a pedido de cientistas japoneses para treinar os seus robôs de cartografar o solo marinho. O Núcleo do Ambiente toma a posição de que devíamos transformar a FLUL toda num aquário para dar habitat às baleias cujas águas foram afetadas quando o primeiro presidente Youtuber dos EUA decidiu fazer o oil bucket challenge e despejar um petroleiro na namorada, seguindo-se Flávio Bolsonaro convencer o pai a deixá-lo fazer o mesmo e dar assim origem a uma moda ecocida por todo o Atlântico.

Uma maioria, cerca de 70 dos 141 presentes, vota a favor de condenar a decisão do diretor. Uma moça com madeixas fluorescentes e um rapaz magro começam a lançar Avada Kedavras porque, enquanto membros do núcleo de Harry Potter, alegam que os estudantes votaram em condenação de Miguel Tamen somente por este ser Slytherin e que não conhecemos os motivos dele.

Dos berros mágicos dos entusiastas literários não surgiu morte alguma, mas instalou-se um grande alvoroço – mãos agitando-se, pares de murros emotivos voando sem grande pontaria mas más intenções, ai que as tinham pois sim tinham, pessoas saltando filas da plateia para lutar e parar lutas –, um espetáculo magnânimo, uma orquestra de caos, um crepúsculo dos deuses entre os mortais – o mais belo espetáculo onde ninguém foi público,  ou tal se julgava… Esquecida, debaixo da faculdade, estava a Barata Magna, única sobrevivente da desparasitação de Julho de 2020 (não só entre as baratas, como também entre os estudantes que estavam a fazer o semestre de verão que foram à faculdade naquela semana. Muitos professores safaram-se, uma vez que tinham subcontratado estudantes para passar PowerPoints enquanto faziam praia).

Duas semanas depois do grande episódio toxicológico, a Barata Magna saiu de um buraco para se ir apoderando das salas e corredores que ficam por detrás do Anfiteatro I, onde ficavam as masmorras secretas que diferentes grupos de alunos aparentemente opostos governavam em segredo. Dividiam-se em três estas masmorras – a praxe de Estudos Europeus, na sua secção, desfigurava as maxilas dos seus jovens mais indisciplinados ao forçá-los a comer papas de aveia com aquela colher de pau toda grande; já os comunistas tinham dezenas de cativos unidos uns aos outros por correntes nos tornozelos, a maioria lá desde que uma discussão sobre a colaboração entre o partido comunista chinês e o Kuomintang na segunda guerra mundial acabou com um debate aceso sobre se Sun Yat-Sen teria «a picha mais gorda que o Mao», culminado em pancadaria; os alternos tinham uma sala com um teto de 40 cm de altura na qual praticavam um castigo conhecido como «convívio horizontal», no qual metiam as pessoas que mostravam uma conduta demasiado hierárquica. Todos estes prisioneiros sofreram eventualmente o destino de calorias nas mandíbulas da barata.