As palavras arrancam flores de dentro de nós.
Há vida e morte de onde são puxadas
para depois com elas podermos escrever
todo o sangue que corre no mundo,
em abraços, nos espasmos de amor.
Ensinam-nos a mentir
para depois mandarem-nos calar
por lhes mentirmos.
Se não dizemos nada,
é porque escondemos alguma coisa;
e se falamos, não sabemos manter segredo.
E se deslizar a mão pelo corrimão é ter coragem
de o fazermos sem o saber, então somos
as palavras que arrancamos uns aos outros,
sem a intenção de lhes revelarmos
as ervas daninhas por entre as flores.
Por isso falemos melhor e mais alto—
pouco ou nada sei de paisagismo,
mas os campos mais bonitos fazem-se
de palavras bem proferidas.
Décio Coelho