Antes repetia:
rua de são roque trinta e três
não esqueças o livro de Rimbaud
dá sentido à viagem
Depois cheguei
à rua da pegada nºII
num passeio noturno sugado
pela truculenta c r i m i n a l i d a d e
troquei um amendoim
por sete facas intactas
amanhecia
do lado de cá da coluna
de Hércules
enquanto
furiosamente gritava
encontraste-me.
Apanhámos um pirilampo flutuante
na penumbra
colhemos a cinza e a espuma
dos dias
íamos nus pelo mar dentro, toquei-te
os lábios e a pele mais terna de cuidar.
Continuo-me agora na ruína
do nosso alfabeto –entre vigílias
leva-me o instinto nómada–
Sei que vi algures
um gato preto um gato branco
a comer o rato a comer o cato
engoli a fábula
cuspi a cauda
celebrando a pena suspensa
Pompeu, o anão lançava o telemóvel
contra o busto napoleónico.
cada colher em sua boca
cai-lhe da pala uma lágrima.
espumámos fios de saliva
com o carrascão pousado
e o gesto de fazer expedir
letras
entre pulsos que ardem
num vazio de crostas
..mais tarde
ridicularizaram a cena
o ar de inocente
na multidão de corpos púrpura
uma voz que suplica: -Vem-te Tirésias!
acordo reparo
nos cêntimos filtrados,
a máquina abandonada
no jardim
quando começou o mundo
fugi.
ninguém por fora das casas
aguardo o sono
gasto a estética da plumagem.
entras por fim
acendo um fósforo
cai o castelo de cartas
apresso-me a descer
o véu
temos o leito de água
mais pura
sussurras
era uma vez. uma casa. um ponto. no escuro. um ponto. de partida perdido no limbo da cosmo-
grafia
lavram pais e mães de cristal
os arquitetos das casas
parem ilhas para
circundarmos
de olhos fechados
era um lume onde encalham barcas
com os seus casulos labirínticos
enorme o canto
ecoando pelas
salas vazias
antes dizia
rua da moçarábia.
entornei um cálice de baba
guardei o punhal
voz
nos precipícios
ritmos loucamente
alagando luz
lábil
língua
uma casa na minha alma
um grão de pó
para descobrir
de manhã.
A.M.